• Dor de estômago – origens e tratamentos pela Medicina Chinesa

    dor_estomagoComentar um pouco a respeito da dor epigástrica (dor na região do estômago) implica em se falar da nossa responsabilidade perante a própria saúde.

    Isto porque as dores epigástricas, tirando o fator hereditário, estão muito atreladas ao modo como experimentamos a vida, ou seja, o que colocamos para dentro, tanto em termos de alimentos quanto de emoções, e como os elaboramos, ou seja, de que maneira os recebemos, separamos o que é útil e proveitoso do que não é, e eliminamos o que nos é desnecessário.

    Obviamente, em se tratando da vida, muitas das experiências estão além das nossas escolhas, mas a retenção de determinadas emoções ou o desapego a elas depende exclusivamente de um treino da consciência.

    Ansiedade e preocupação, por exemplo, afetam diretamente o Baço e provocam estagnação de energia e alimentos no Estômago. A raiva, a mágoa e a frustração, bloqueiam a circulação da energia do Fígado (se forem reprimidas) ou provocam o aumento excessivo dela (se forem manifestadas). Em ambos os casos, esse desequilíbrio danifica o Estômago e atrapalha a digestão, visto que o Fígado, segundo a Medicina Tradicional Chinesa, é o responsável pelo direcionamento correto da energia que promove o amadurecimento do bolo alimentar no Estômago e o transporte dos alimentos e fluidos pelo Baço.

    Tal desordem provoca uma das síndromes mais comuns do aparelho digestório que é do Qi (energia) do Fígado invadindo o Estômago, cujos sintomas são distensão e dor na região epigástrica que se irradia para o hipocôndrio (parte alta das costelas), irritabilidade, suspiros e sensação desconfortável de fome, claramente atrelados a tensão emocional.

    Esse padrão é um dos mais simples de se tratar pela Acupuntura, bastando acalmar as emoções e aliviar a invasão do Estômago pelo Fígado, com o uso de pontos tais como F14, PC6, E21, VB34, VC12 e E36.

    No entanto outros desequilíbrios podem ser mais complexos para se tratar, especialmente se forem mais crônicos, e atingirem pessoas idosas ou se estiverem associados com maus hábitos alimentares além dos emocionais.

    Neste segundo caso, essa combinação pode formar o que se denomina Mucosidade-Calor, que se constitui uma energia perversa que pode provocar sensação de opressão na região epigástrica, boca seca, muco nas fezes, náusea, vômito e inquietação mental.

    Ela envolve o consumo excessivo de condimentos, carne vermelha, álcool, açúcar, frituras e laticínios.

    É importante lembrar que este fator patogênico também pode prejudicar diretamente o Fígado e lentificar a excreção da bile pela Vesícula Biliar. Tal ocorrência propicia a formação de cálculos biliares e sua manifestação pode ser facilmente confundida com um quadro de gastrite, já que seu desconforto pode se refletir na área do epigástrio.

    Por isso recomendamos o acompanhamento médico ocidental em concomitância à Acupuntura, visto que seus exames podem esclarecer o diagnóstico e descartar a possibilidade de um engano, no caso de o individuo apresentar uma doença mais grave como o câncer, por exemplo, e ainda reconhecer os resultados que a Acupuntura e a Fitoterapia Chinesa podem promover durante o tratamento.

    O assunto é vasto e outros cuidados sobre a nossa alimentação serão abordados em um próximo artigo.

    Cuidem-se sempre.

    Nossos desejos de saúde e longevidade a todos.

  • Pulsologia e a degustação de vinhos

    Ilustração milenar de terapeuta examinando o pulso do paciente
    Ilustração milenar de terapeuta examinando o pulso do paciente

    Luis Fernando Veríssimo escreveu certa vez que “já se disse mais bobagem sobre vinhos do que sobre qualquer outro assunto, com a possível exceção do orgasmo feminino e da vida eterna.” Certamente ele não acrescentou a essa lista de exceções a pulsologia porque não conhece nada de Medicina Tradicional Chinesa.

    Já li, já tive e já dei aula de provavelmente todos os principais temas teóricos da MTC. Posso dizer com tranqüilidade que a análise do pulso é o tema mais controverso, mais misterioso e também sobre o qual já se disse um número incontável de divagações abstratas e imprecisas (ou melhor dizendo – bobagens). Pergunta o aflito aluno: “o que é um pulso Flutuante professor?” E o brilhante mestre responde do alto da sua profunda sabedoria: “é como sentir uma madeira boiando num riacho.” Simples assim. E o aluno acaba de desistir de usar a pulsologia na sua prática clínica, achando que é coisa de chinês maluco ou que só vai chegar nesse “nível” de compreensão nas próximas vidas.

    Há pouco tempo comecei a me interessar cada vez mais sobre vinhos. Mas confesso que esse universo me parecia dificílimo. Quando via o Renato Machado no programa “Mesa para Dois” falando sobre os vinhos e as suas harmonizações com a comida (e também contando o preço dos vinhos que estava degustando) pensava em desistir ou deixar para algumas encarnações vindouras. Mas dois fatos mudaram essa visão. Ganhei um ótimo livro da minha preciosa esposa chamado “Sem Segredos”, do Matt Skinner. Ele é sommelier dos restaurantes do famoso chef Jamie Oliver (que por sinal também me ajudou muito a desmitificar o mundo da gastronomia). E também passei a frequentar uma degustação de vinhos semanal numa adega perto de casa.

    vinhoMunido das informações do livro e do respaldo técnico dos freqüentadores mais experientes da degustação passei a me aventurar na análise dos vinhos. Posso dizer que em um mês tive uma evolução surpreendente, tanto pra mim, quando para os meus colegas de vinho, conseguindo até conversar bem razoavelmente (mas com muita humildade) com pessoas que tomam vinhos há trinta anos. Como isso foi possível? Porque a forma como se desenvolve a capacidade de se perceber as características de um vinho é exatamente igual à de ser capaz de detectar as diferenciações do pulso de um paciente.

    E essa chave na verdade é muito simples: você só é capaz de perceber, por exemplo, o que são os taninos de um vinho, se você for capaz, anteriormente, de descrever qual é a sensação dos taninos. Tornando ainda mais simples. Não adianta tanto você ficar tomando centenas de vinhos (e ficar muito pobre com esse processo) esperando que um dia, magicamente, e sem nenhuma ajuda, você passe a sentir os tais dos taninos. Agora, se alguma boa alma chega para você e lhe diz: os taninos de um vinho causam uma sensação de secura na boca, secando a saliva, como quando comemos uma banana verde. Fica bem mais fácil agora você perceber os taninos do próximo vinho que você for tomar, não? E agora, depois de uns três ou quatro vinhos ,você já será capaz de dizer qual apresenta mais taninos (pois seca mais a sua boca) do que o outro com menos. E isso funciona com todas as demais características do vinho, como acidez, amargor, ser redondo, etc…

    Da mesma forma, um terapeuta de Medicina Chinesa, só será capaz de sentir as características de um pulso se for capaz de descrevê-las. Por exemplo, o tal do pulso Flutuante: ele é um pulso sentido com mais intensidade e clareza no nível superficial do toque (no nível da pele) e que, ao se aprofundar a pressão, ele perde intensidade. Também fica mais fácil, não é?

    As correlações entre a degustação de vinhos e a análise da pulsologia na Medicina Chinesa não param por aí. Mas isso fica para um próximo post.

    Enquanto isso, recomendo irmos treinando com um Casa Lapostolle, da uva Merlot, 2006 ou 2007. Saúde!

  • TPM? Trate Pela Medicina Tradicional Chinesa

    Que mulher já não vivenciou a sensação de não ser mais capaz de administrar a própria vida?

    De repente, de um dia para o outro aquilo que era corriqueiro e fácil, torna-se difícil, confuso e cansativo. Um tornado interno leva embora a estabilidade e agita um mar de frustrações e ressentimentos. Às vezes a lucidez parece desaparecer e só resta a tensão e a irritabilidade sem motivos aparentes.

    Esses sinais podem variar de intensidade e surgir um dia ou até duas semanas antes da vinda da menstruação. É a famosa TPM, um desequilíbrio considerado de fácil correção segundo a Medicina Tradicional Chinesa.

    Mulheres que vivem sob tensão e que guardam mágoas e ressentimentos facilmente tem a energia do Fígado paralisada, o que provoca um bloqueio na sua habilidade de equilibrar as emoções, circular com suavidade a energia por todo o organismo e movimentar o sangue no útero.

    Em decorrência disto as emoções ficam afetadas e desconfortos físicos como cefaléia, distensão nas mamas e no abdome podem aparecer, pois são locais por onde o canal de energia do Fígado percorre.

    A ingestão de laticínios e gordura combinada com tais dificuldades emocionais também agravam os sintomas, pois formam o que denominamos de Mucosidade-Fogo, um desequilíbrio mais severo de tratar, porque bloqueia ainda mais a circulação de energia pelo organismo.

    Outra causa comum para a TPM é o excesso de esforço físico porque canaliza muita energia do Fígado para o aporte de sangue para os tendões.

    O tratamento para esse distúrbio pode ser feito através dos pontos de Acupuntura que liberam a circulação deste canal, tais como os pontos Fígado 2 e Fígado 3 e também sobre o canal do Pericárdio, que distribui a energia nas mamas e influencia a serenidade da mente.

    Uma boa massagem, como o Tui Na, que libere e nutra os tendões e os canais energéticos é recomendada para atenuar e tratar os sintomas.

    A Fitoterapia também é indicada, pois há ervas dentro da MTC que desbloqueiam a estagnação de energia e sangue pelo organismo.

    Vale dizer que manter atividade física prazerosa na rotina e o hábito de comunicar claramente os sentimentos previne a TPM e garante uma vida mais saudável e feliz!

    Outra descoberta interessante a parte da Medicina Chinesa é o uso do óleo de Prímula (Oenothera biennis), cujos componentes parecem reduzir os sintomas da TPM segundo pesquisadores.

  • Problemas intestinais sob a visão da Medicina Chinesa

    Em toda consulta pela Medicina Tradicional Cultura, seja de Acupuntura, Tui Na ou Fitoterapia, ou todas elas integradas, como trabalhamos no nosso consultório, além da análise detalhada da queixa que o paciente nos traz, algumas outras investigações são fundamentais para se chegar a um diagnóstico preciso. A saúde do aparelho digestório é um dos fatores mais reveladores sobre o funcionamento do nosso organismo, especialmente a nossa evacuação.

    Muitas pessoas infelizmente não tem o hábito de observarem as suas fezes. Além disso ser um desperdício de sinais que podem ser importantes sobre a nossa saúde, joga-se literalmente fora uma oportunidade até de salvar a sua vida.

    Cada vez tem-se falado mais sobre o câncer de intestino. Trata-se do segundo tipo de tumor maligno que mais acomete homens e mulheres nos centros urbanos do mundo.

    Uma das maiores divulgadoras da importância da observação da qualidade da evacuação é Gillian McKeith, do programa “Você É o que Você Come”, transmitido no Brasil pela GNT e em mais 34 países.

    Apesar da sua área de atuação ser a nutrição baseada nos preceitos da fisiologia da medicina moderna, não tendo ligação direta com a Medicina Chinesa, sua comprovação prática sobre qual é o tipo de formação de fezes que indica uma boa saúde é muito próxima da nossa: “O cocô deve ter cor de castanha-da-índia. Preto ou amarelo não me deixa feliz. Deve ter o formato de salsicha. O ideal é que fique atado ao bumbum assim que alcança a água. Um bonito, longo e grosso cocô. Não deve ser muito fino nem ter um cheiro forte, daqueles que fazem você sair correndo do banheiro. Não deve haver pedaços de comida ou ser muito quebrado.”

    Gillian tem mais de 15 anos usando a análise das fezes de seus pacientes como dado importante de seus diagnósticos nutricionais e avisa que a presença de sangue nas fezes é um dos sinais mais importantes que podem indicar a presença de um tumor ou alguma outra disfunção mais séria.

    Segundo a MTC, a constipação, problema intestinal mais comum, ocorre principalmente por alimentação inadequada, geralmente por ingestão de alimentos muito picantes, de natureza quente e gordurosa, que causam Secura e obstrução de Qi (Energia) no intestino. Também é muito relacionada com a pouca água ingerida, alimentos pobre em fibras, excesso de preocupações e falta de exercício físico, que fazem com que o Qi (Energia) do Intestino Grosso não tenha força para empurrar as fezes regularmente.

    Recomendamos para quem sofre de constipação, além de observar as possíveis causas acima, acrescente na sua alimentação ameixa-preta, figo, beterraba, salsinha e que tome 8 copos de água diariamente.

    Gillian McKeith ainda dá uma dica interessante para o bom funcionamento intestinal: “Ensino meus pacientes a abaixar lentamente (como se fossem ficar de cócoras), antes de se sentarem no vaso. Isso irá criar o movimento de ondas no intestino para que o cocô saia confortavelmente. Outra idéia é arrumar um banquinho de 30 cm de altura. Coloque os pés no banco quando sentado na privada, isso estimula uma posição que proporciona evacuação completa. Se não tiver o banquinho, use pilhas de jornal.”