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O leite e a formação de Mucosidade

Quando em alguma palestra ou aula falamos sobre a Dietologia da Medicina Chinesa, é quase inevitável que em algum momento alguém nos pergunte: mas e o leite? O leite e seus derivados são um tema controverso na nutrição mundial. Muitos estudos feitos tentam comprovar seus benefícios, assim como seus malefícios, e a população ocidental, que culturalmente tem o leite como uma das bases da sua alimentação, continua sem total consciência de como ele altera nossa fisiologia.

Para entendermos esse mecanismo precisamos primeiro conhecer um princípio fundamental da nossa digestão, segundo a visão da Medicina Chinesa, que é a formação do que chamamos de Mucosidade (痰饮 – Tan Yin). A Mucosidade é um resíduo formado pelo mau funcionamento do Estômago (胃 – Wèi) e do Baço (脾 – ). Segundo a Medicina Chinesa, o Estômago (胃 – Wèi) tem a função de preparar os alimentos que comemos para o aproveitamento energético e nutricional. Já o Baço (脾 – ) transforma o que pode ser aproveitado pelo corpo em energia nutritiva que será utilizada, dentre outras funções, para a geração do Sangue (血 – Xuè). Toda vez que o Estômago (胃 – Wèi) e o Baço (脾 – ) entram num quadro de hipofuncionamento, ou seja, quando eles têm suas funções feitas numa velocidade mais lenta e com menos eficácia, começamos a ter a formação desse resíduo, chamado de Mucosidade (痰饮 – Tan Yin).

Ela é considerada o pior dos fatores geradores de doença que nosso corpo pode criar quando está em desarmonia. Isto porque esse resíduo pode se acumular de muitas maneiras, gerando inúmeras patologias. Pode se acumular em forma de muco propriamente dito, alojando-se no pulmão e gerando asma, bronquite, tosses crônicas, pigarro. Pode também se acumular em forma de gordura, gerando obesidade. Ou então em forma de retenção de líquidos, gerando edemas. Mais profundamente, pode alojar-se nas articulações, causando obstrução circulatória, dor e deformidade óssea, como na artrite reumatóide. Ou, ainda, esse resíduo pode gerar má formação celular, sendo, dentro da Medicina Chinesa, sempre uma pré-condição para a geração de um tumor ou câncer.

Dentre os alimentos mais comuns da alimentação ocidental, o leite e seus derivados formam a categoria que mais facilmente gera Mucosidade (痰饮 – Tan Yin). O leite de origem bovina é de muito difícil digestão para o nosso trato digestório, favorecendo a formação desse resíduo. Já o leite materno é exatamente o oposto. Por ser próprio para a fisiologia humana, o bebê o digere rapidamente e com o máximo de aproveitamento nutricional e energético.

Os chineses de modo geral não ingerem leite e seus derivados. Leite de vaca, iogurte, sorvete e queijo são alimentos que ainda são raros na alimentação chinesa e na verdade eles chegam até a ter aversão a esse tipo de alimento. Mesmo com os bebês, os chineses não dão leite de vaca após o período de amamentação. Vários estudos epidemiológicos já foram realizados procurando entender o motivo que faz com que os índices de câncer de mama, de ovários, de próstata, de intestino, dentre outros, sejam muito menores na população chinesa do que na ocidental. Esses estudos também apontam a ingestão do leite como um dos principais motivos para essa importante diferença. Outros motivos são os demais hábitos alimentares saudáveis que os chineses possuem, além de uma grande cultura que incentiva a atividade física regular em todas as idades.

Na nossa linhagem de Medicina Chinesa, de origem taoista, não entendemos como harmoniosos os extremos. Por isso sugerimos que não retiremos por completo o leite da nossa alimentação, mas que diminuamos a sua ingestão e de seus derivados. Isso torna-se ainda mais importante para pessoas que apresentam algum grau de deficiência na digestão (como digestão lenta, formação de gases, azia) e especialmente para quem já apresenta sinais e sintomas de Mucosidade (痰饮 – Tan Yin) acumulada.

12 Comments

  • Leticia Sekito

    Acabei de comprar queijo de cabra e mussarela de bufala, fora manteiga e leite de vaca… Tem diferença consumir o leite de cabra e búfala? Fiquei mais tranquila no paragrafo final, estou tentando comer menos leite e derivados, mas confesso que é dificil. Adoro capuccino, queijo parmesão e pão de queijo… mas vou tentando sentir como no dia meu corpo está e tento dosar um pouco. Como já o tofu, que me supre bem, mas `as vezes o leite e derivados me chamam.
    Obrigada pela matéria!
    abraços,
    Leticia Sekito.

    • Edgar Cantelli

      Oi Letícia, tudo bom? Em termos fisiológicosos leites de cabra e búfala também não são destinados ao ser humano. O que me parece uma vantagem destes em relação ao leite de vaca são todos os antibióticos e hormônios usados na criação das vacas e que certamente fazem mal a nossa saúde. Mas isso é só uma impressão, pois não tenho informações detalhadas de como é feita a criação das cabras e búfalas. Abraço!

  • Fatima Cristina Terozi Guerra

    muito bom esse ensinamento, eu não tomo leite há muito tempo, mas como queijo e tomo um iogurt natural pela manhã, vou procurar diminuir.

  • Stella Bittar

    Oi Edgar, acho importante passarmos essas informações adiante e gostaria de salientar que sempre encontro o mesmo problema quando falo desse assunto com os pacientes: a maioria tem convicção de que somente o leite nutre o organismo do Cálcio necessário – existe uma obsessão sobre esse assunto e as pessoas se esquecem de que alimentos como brócolis, gergelim, castanha-do-pará, salmão, couve,algas, amêndoas e muitos outros também são grandes fontes deste elemento…Infelizmente notei que os nutricionistas são os primeiros a indicarem o leite para consumo diário…É mesmo uma questão cultural a ser modificada, o que não é nada fácil.

  • Elaine Cristina

    Boa noite. Gostaria de saber a se ingestão do leite com teor reduzido de lactose (90% menos) contribui para a diminuição dos efeitos da leite em nosso organismo.
    Grata

    • Edgar Cantelli

      Não conheço estudos a esse respeito dentro da Med. Chinesa. Mas penso que sim, a digestão do leite possa ser favorecida. Por outro lado sabemos que a proteína do leite é muito maior do que a proteína do leite materno, por exemplo. E por isso que os bebês, quando passam a tomar leite de vaca, passam a ter muito mais cólicas. Analisando por esse lado, talvez algum grau de dificuldade de digestão seja mantido. Abraço.

    • Edgar Cantelli

      Oi Sheila, tudo bom? Me parece um leite bem mais favorável à digestão. Digo isso muito mais pelo relato dos meus pacientes, do que por estudos. Agora, o que me preocupa no leite de soja é o cultivo da soja em si. Além de boa parte da produção mundial de soja já ser transgênica, é um tipo de cultivo onde é usado todo tipo de química. Além do que o Roberto (da sua turma) me disse semana passada que nos EUA somente uma empresa monopolisa a produção da soja, o que é muito perigoso. O que você acha?

  • Sheila Rafaini

    Pois é… Como estou tendo muitos casos na clínica de pacientes viciados em leite, estava pensando em pedir que, além de diminuir, que os trocassem por leite de soja. Mas uma paciente disse que sua ginecologista orientou sobre a alta quantidade de hormônios femininos nesse tipo de leite.
    Estou na dúvida… Parece-me bem mais saudável, mas também não temos qualquer fonte segura de informação!

    • Edgar Cantelli

      Eu acho importante não observar as coisas isoladamente. Ou seja, se a paciente é viciada em leite, muito melhor que ele tome então o de soja. Mas é claro então que vamos observar o restante da sua alimentação para vermos se ela não ingere soja também de outras fontes. E também indicar que ela, gradativamente, vá diminuindo essa ingestão. Concorda Sheila?

  • Sheila Rafaini

    Concordo, totalmente! Precisamos reeducar nossa visão de observar o paciente como um todo. É fácil cair na cilada do pensamento ocidentalizado e reduzir o paciente à uma única visão!
    Valeu Edgar!

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